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As bases neurocientíficas da ansiedade em mães e o esgotamento emocional como profissionais e multitarefas

  • Foto do escritor: Thais Peressim
    Thais Peressim
  • 20 de out.
  • 3 min de leitura

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As bases neurocientíficas da ansiedade em mães e o esgotamento emocional como profissionais e multitarefas.


Ser mãe no século XXI é viver sob um constante estado de alerta. Entre demandas profissionais, tarefas domésticas e a responsabilidade de cuidar de uma criança, o cérebro feminino é colocado em um ritmo intenso de processamento emocional e cognitivo.


A neurociência tem mostrado que esse acúmulo de funções não é apenas uma questão de rotina — ele se traduz em mudanças reais no funcionamento cerebral, que explicam por que tantas mulheres experimentam ansiedade e esgotamento emocional durante a maternidade.


Cérebro em estado de hiperativação

Do ponto de vista neurobiológico, a ansiedade está associada à hiperatividade da amígdala, estrutura cerebral responsável pela detecção de ameaças e pelo disparo das respostas de medo e alerta. Em mães ansiosas, essa região tende a permanecer constantemente ativada, como se o cérebro estivesse sempre em modo de sobrevivência. Ao mesmo tempo, o córtex pré-frontal, área ligada à tomada de decisão e ao controle racional das emoções, pode apresentar menor eficiência funcional devido à sobrecarga mental e ao estresse contínuo.

Além disso, há uma alteração no equilíbrio dos neurotransmissores, como a serotonina (associada à regulação do humor) e o GABA (relacionado à calma e relaxamento). Quando há privação de sono, alta demanda emocional e falta de tempo para recuperação, esses sistemas químicos ficam desregulados, favorecendo o aparecimento de sintomas ansiosos e irritabilidade.


O papel da maternidade e da neuroplasticidade

Durante a gestação e o pós-parto, o cérebro da mulher passa por um processo chamado neuroplasticidade materna. Essa reconfiguração neural envolve mudanças em áreas como o hipotálamo, o córtex cingulado anterior e o núcleo accumbens, que aumentam a sensibilidade emocional, a empatia e a vigilância com o bebê. Embora essas transformações sejam essenciais para o cuidado materno, elas também tornam o sistema nervoso mais reativo a estímulos de estresse.


A ocitocina, conhecida como “hormônio do vínculo”, tem papel fundamental nesse processo. Ela fortalece o apego entre mãe e filho, mas, paradoxalmente, pode intensificar a preocupação e o medo de falhar. Quando a mãe precisa conciliar a maternidade com o trabalho, o cérebro permanece alternando entre múltiplas tarefas e responsabilidades, o que eleva os níveis de cortisol, o hormônio do estresse. Com o tempo, essa ativação contínua gera um estado de fadiga mental e emocional.


O esgotamento como consequência neuropsicológica

O chamado esgotamento emocional materno — muitas vezes confundido com simples cansaço — é, na verdade, resultado de uma disfunção no eixo hipotálamo–hipófise–adrenal, sistema responsável por regular o estresse. Quando o cérebro não tem tempo suficiente para se recuperar, a liberação de cortisol se torna cronicamente elevada, afetando a memória, a concentração e até o sistema imunológico


Em mães que também atuam como profissionais e gestoras de múltiplas tarefas, o cérebro precisa dividir recursos entre funções cognitivas complexas e exigências emocionais intensas. Essa sobreposição de demandas leva à sobrecarga executiva, afetando o desempenho no trabalho, a qualidade das relações e o bem-estar geral.


Conclusão: equilíbrio e neurocuidado


Compreender as bases neurocientíficas da ansiedade e do esgotamento em mães é essencial para transformar o modo como a sociedade encara a maternidade. O cérebro feminino não é falho — ele está reagindo biologicamente a uma sobrecarga estrutural. Estratégias de regulação emocional, como mindfulness, terapia cognitivo-comportamental e rotinas de autocuidado, podem ajudar a restaurar o equilíbrio neuroquímico e reduzir a hiperativação das áreas cerebrais ligadas ao estresse.


Reconhecer os limites do próprio corpo e da mente não é sinal de fraqueza, mas um ato de inteligência biológica. O bem-estar materno é, antes de tudo, um investimento na saúde mental da família e da sociedade.

 
 
 

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